
Quem passar pelo Complexo Turístico do Ver-o-Peso, o principal cartão postal de Belém, notará que há algo diferente na paisagem. O Mercado de Ferro, que abriga o Mercado de Peixe da Feira, está com uma cor diferente. A cor é resultado da aplicação de um produto antiferrugem, que prepara a superfície para receber a cor definitiva, que já foi escolhida pela população de Belém por meio de enquete virtual, disponível no
site do Ver-o-Peso, que apresentou as seguintes opções: verde poseidon, azul regata e vermelho.
A iniciativa foi do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que iniciou a obra de restauração e conservação do Ver-o-Peso em janeiro de 2012. De acordo com pesquisas feitas pelo instituto, em imagens e pinturas antigas do Mercado, constatou-se que já se usaram diversas cores em seu revestimento, como amarelo, rosa salmão e vermelho cerâmica, embora a composição de azul (azul celeste, azul céu, azul oceano) e cinza (platina) tenha prevalecido nos últimos anos.
Mas será que tal mudança não implica perda de identidade do patrimônio histórico e cultural de Belém? De acordo com a pesquisadora da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Pará (UFPA), professora Elna Trindade, não é essencial buscar a cor original do Complexo, porque só se pode chegar a ela aproximadamente. Hoje, pode-se mudar a cor de uma edificação sem que isso influencie na memória da cidade. Ainda que a cor seja um forte componente em um projeto arquitetônico, não é mais importante que o espaço construído e a história da edificação.
Memória histórica da cidade - Sobre a participação pública no que consiste na mudança da cor do complexo turístico, a pesquisadora afirma ser muito importante, justamente porque faz com que a população de Belém também trabalhe no resgate e na preservação dessa edificação. Logo, essa escolha não se torna uma imposição de poucos, mas sim a vontade de muitos. De acordo com Elna Trindade, a arquitetura histórica em Belém, como a do Ver-o-Peso, datado do século XIX, é muito mais expressiva do que a moderna, pois tem uma singularidade presente em suas formas, técnicas e materiais contribuindo para a memória histórica da cidade.
Além do Ver-o-Peso, Elna Trindade dá, ainda, destaque às edificações que foram construídas nos Séculos XVIII e XIX, como a Igreja da Sé, a Casa das Onze Janelas, o Teatro da Paz e o Prédio da Prefeitura Municipal. As mudanças que tais prédios já sofreram ao longo do tempo, ao serem restaurados e sofrerem ações de preservação, não implicaram perda de características únicas. Para haver uma mudança grande, é feito um estudo. Nenhuma intervenção é feita em uma arquitetura se esta não estiver em harmonia com o entorno e com a história materializada nessas edificações.
A importância de preservar - Segundo a pesquisadora, Belém tem como característica marcante a arquitetura de seu centro histórico, núcleo de origem da cidade, onde convivem traços do período colonial, com toda a variedade da transição do século XIX ao XX. Os estudos sobre o cento histórico são considerados muito importantes, não só porque demonstram a evolução da cidade, mas também pelas histórias que eles guardam.
Na Universidade, busca-se mostrar a importância da arquitetura desses espaços históricos, a fim de promover conhecimento para a comunidade acadêmica e comunidade em geral. O aluno aprende a conhecer o lugar em que vive, logo, entende a importância de preservá-lo. “Você só ama o que você conhece. Você só guarda aquilo que você ama. Então, tudo isso é muito importante, porque a preservação depende do conhecimento de todos.”, reforça Elna Trindade.
Texto: Gabriela Amorim – Assessoria de Comunicação da UFPA
Fotos: Alexandre Moraes